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terça-feira, 22 de setembro de 2015

VISAGISMO FUNCIONA?

Image Thinking & Visagismo

Será mesmo possível oferecer serviços de consultoria em imagem humana e estilo, na promessa de criar uma identidade para o cliente?

O que estaria por trás deste sonho?


LEANDRO DE LOIOLA NUNES

Palestrante e Consultor em: Imagem Humana, Visagismo e Cultura.

A imagem humana se tornou um produto valioso nos dias atuais. Você sabe como isso aconteceu? Há a indústria cosmética, plástica, da moda e da beleza. Juntas, movimentam fortunas, todos os dias!
Será mesmo possível oferecer serviços de consultoria em imagem humana e estilo, na promessa de criar uma identidade para o cliente? O que estaria por trás deste sonho?
Já se perguntou por quê as imagens, sobretudo a humana, ganhou tanto destaque? Será possível oferecer um serviço de personalização em imagem pessoal a partir de formas já prontas e definidas?
Algumas das chamadas consultorias de imagem visagistas, como proposta de trabalho diferencial ao cliente, buscam por uma suposta valorização e potencialização de sua imagem pessoal baseando-se em formas estereotipadas e prontas! Prometem potencializar sua identidade a partir de uma mistura entre Arte e Ciência, por exemplo, ao apoiar-se em pseudociências como a chamada Morfopsicologia, ou mesmo em ciências exatas como a Matemática e Geometria.

Mas, será possível realizar um trabalho realmente personalíssimo?

Não seria leviano e superficial propor conclusões sobre pessoas, e daí traçar manuais de perfis característico-comportamentais sobre possíveis fragilidades ou potencialidades baseadas, por exemplo, apenas numa análise psicovisual?

Não é novidade que a busca do homem por meios que o façam compreender a si próprio e o mundo que o cerca é bastante antiga, levando-o a teorizar a respeito de possíveis significados inscritos em sua própria face, corpo e imagem.

Morfopsicologia, Fisiognomonia e Frenologia são algumas das pseudo-ciências que, ao longo do tempo, tentam cravar seu lugar de reconhecimento perante as demais ciências reconhecidas, ao passo que procuram explicar o comportamento, sentimento, caráter e personalidade humanas via formatos do rosto, tamanho do crânio, arqueamento de sobrancelhas, tamanho do nariz, largura dos lábios, formato do queixo, formato do corpo etc., tornando-se quase que Manuais decifradores do homem.

A simplificação negativa resultante da tentativa de medir ou tabular sua beleza serve apenas para facilitar uma suposta pretensão de ler sua imagem pessoal, sua expressão corporal e de toda a complexidade em torno de sua existência. O que você talvez não sabe é que essa medição da imagem pessoal esbarra em sérias questões de discriminação racial e cultural ocorridas na humanidade. Por outro lado, viabiliza a venda e o comércio das chamadas“consultorias” em torno da imagem pessoal, não só promovendo um tipo de discriminação quase racial ao “industrializar” as pessoas e suas imagens, mas também dividindo-as em formatos pré-fabricados, geométricos e pré-medidos, tabulados por instrumentos, como se sua beleza e suas formas pudessem ser “medidas” ou entendidas como um mero produto a ser comercializado no mercado.

“Certa vez ouvi de um conhecido e renomado visagista e profissional de beleza que, a fim de reconhecer o formato "padrão" do rosto de um cliente - formato esse que segundo ele poderia variar entre 7 a 9 diferentes formas geométricas - era necessário não só olhar para o rosto, como também tocá-lo com as mãos.”

Primeiramente, fiquei me perguntando o que a "geometria" tinha a ver com o rosto de alguem. Ou seja, por quê aquele profissional visagista podia afirmar com tanta certeza não sósobre a quantidade e variação de formatos de rostos humanos, como também sobre seus possíveis significados?

Outro fator que me despertou curiosidade - agora explicando minha referência no início desse texto ao tão conhecido apóstolo São Tomé, famoso por ter duvidado da reencarnação de Cristo, tendo que tocar em suas chagas a fim de crer - foi se havia alguma relação verdadeira entre o 'toque' (tato) e uma possível tentativa em 'ler' o rosto, voltando ao caso do visagista e seu cliente. É inegável a força cultural em torno do mito do "ver" para "crer" atribuído a São Tomé.

Mas, o que a visão tem a ver com o tato, no que se refere a imagem humana? Existe mesmo alguma relação entre seu rosto, sua imagem, a percepção e a forma?

De onde tinha vindo a idéia do visagista para a tentativa de reconhecimento dos formatos do rosto pelo toque das mãos? Estaria ele certo? Ou equivocado?

Como é possível 'ver' para 'crer'? Ou seria melhor 'tocar' para 'ver'? Como funciona a 'percepção' humana associada à imagem do rosto e ao corpo?

A busca por padronização e formatação da expressão e atividades humanas tem sido um fator recorrente ao longo da história do desenvolvimento humano. Isso também tem acontecido com a imagem humana.

No apelo pela justificativa dessa prática no mercado, muitos se inspiram nos antigos mestres das artes plásticas como, por exemplo, Leonardo da Vinci e suas criações. Ingenuamente, alguns profissionais da área da beleza atuais, até criaram réguas, tabuladores e medidores na tentativa de "instrumentalizar" e, erroneamente, caracterizar como "científica" uma forma de expressão artística buscando se apoiar nas "ciências" da Matemática e Geometria.

A justificativa para tais práticas parecem ser uma proposta de querer quantificar e mensurar o quão belo, intelectual, racional ou emocional alguém possa ser, dependendo da largura da testa, do espaço da região entre olhos e boca e entre boca e queixo, já que essas medidas deveriam se adequar a certos padrões pré-estabelecidos. Isso serviria de indicativo qualificador que tornaria a pessoa capacitada ou não para determinada atividade, relação, ou atuação na sociedade.

Talvez esse esforço seja ainda um resquício da então passagem para a era Moderna, vivida pela humanidade por volta do século XIX e XX, quando o homem inventava máquinas e instrumentos para a indústria a fim de facilitar sua vida, o capitalismo etc. Em outras palavras, a simplificação resultante da tentativa de se medir ou tabular a beleza facilitaria a leitura das imagens, das expressões corporais e de toda a complexidade em torno da existência humana e, por outro lado, viabilizaria a venda e o comércio, ao "industrializar" as pessoas e suas imagens em formatos pré-fabricados, pré-medidos, como produtos a serem comercializados no mercado.

Ao contrário, o que se deveria buscar talvez fossem as conexões e relações construtoras da identidade humana, presentes no meio cultural e diversamente captadas e atualizadas - aquilo que faz com que cada um de nós sejamos seres únicos, não conformados a padrões massificantes ou "instrumentalizáveis".


*LEANDRO DE LOIOLA NUNES

Palestrante e Consultor em: Imagem Humana; Visagismo e Cultura.

Proprietário da marca: IMAGE THINKING

SITE: www.imagethinking.com.br

Desenvolve, atualmente, o primeiro doutorado no mundo cujo tema aborda a comunicação via imagem humana como resultado de uma metodologia exclusiva baseada num processo de significação via cultura, pela Escola de Comunicação e Artes - ECA, USP.

A pesquisa é voltada para os estudos da Imagem Humana como Texto e Produto de cultura, modelizada por diagramas semióticos a partir da concepção de: luz, corpo, superfícies, interfaces e materiais.

Mestre em Filologia e Língua Portuguesa, pela Universidade de São Paulo - USP, com ênfase na teoria dialógica do discurso. Bacharel em Letras, com habilitação em Linguística, pela Universidade de São Paulo - USP.

Professor de Semiótica Visual, Semiótica e Moda, Construção do Texto Institucional, Redação e Comunicação, Língua Portuguesa e Produção de Textos para cursos de graduação em Jornalismo e Comunicação Social (Publicidade e Propaganda), Comunicação Social (Rádio e TV) e cursos de Pós-Graduação em Consultoria de Moda, Construção do Texto Institucional e MBA em Branding. Consultor em Comunicação e Coach Profissional. Membro integrante do Grupo de Pesquisa Semiótica da Comunicação (Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq; Universidade de São Paulo, PPG Meios e Processos Audiovisuais, Escola de Comunicações e Artes - ECA/USP)



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