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segunda-feira, 12 de outubro de 2020

ARTIGO - O modelo Open Source se expandiu para além da tecnologia, ele também salva vidas


Cristiana Maranhão é presidente da SUSE
 para a América Latina

Nos próximos meses, cientistas de todo o mundo monitorarão informações sobre a doença de forma pública, com dados abertos, bem como seu impacto nos sistemas de saúde e na população

Uma das principais lições que esta pandemia deixará está bastante clara no título deste arquivo. O open source venceu e não apenas como modelo de desenvolvimento de aplicações, mas como modelo de compartilhamento de conhecimento e de colaboração. Ele já vinha se mostrando eficiente há anos, mas, neste período de pandemia, ele tem sido fundamental.

Falando em tecnologia, é inegável que hoje a internet é baseada em código aberto. Essa predominância se explica por uma diferença simples: no desenvolvimento do software proprietário, alguém é dono daquele código, daquele conhecimento específico. E isso limita tremendamente sua capacidade de inovação. É o dono do código quem vai determinar o que será desenvolvido e onde será aplicado o que, limita esta decisão a um pequeno grupo e a sua capacidade de investimento.

No modelo open, que predomina na internet hoje, esse projeto vai para a comunidade. Uma vez que ele consegue reunir uma série de colaboradores ao seu redor, o projeto está viabilizado. Isso vale para o desenvolvimento de software, mas o modelo tem sido utilizado em diversos setores, especialmente agora.

Olhando para este momento de pandemia, o escritor Yuval Harari, em seu artigo “Na batalha contra o coronavírus, faltam líderes à humanidade”, lembrou que não há uma liderança clara nos esforços contra o coronavírus. Ele destacou que as verdadeiras ferramentas contra a situação atual são a cooperação entre os agentes, a solidariedade global e informação científica confiável. Na prática, isso significa que em um mundo globalizado não é possível a atuação independente, ou proprietária.

Este é o novo padrão, já percebido pela comunidade científica global: informação aberta, organizada, disponibilização dos modelos de progressão da epidemia e de procura do sistema de saúde, para que possam ser estudados e, principalmente, melhorados. Nos próximos meses, cientistas de todo o mundo monitorarão informações sobre a doença de forma pública, com dados abertos, bem como seu impacto nos sistemas de saúde e na população.

Essa mesma postura terá que ser adotada pelas empresas, embora muitas delas ainda não tenham percebido. Para se reinventar neste momento, todas precisarão de soluções inovadoras e o um novo modo de fazer isso é seguindo o modelo open source. Por sorte, as barreiras para que isso aconteça não são tecnológicas, mas culturais e podem ser facilmente quebradas.

Não são raros os casos de empresas no Brasil e no mundo como o que vou citar aqui: uma delas tinha um projeto de ferramentas de colaboração que deveria estar 50% implantada em seis meses. Com a pandemia, esta mesma empresa implantou 95% deste mesmo projeto em apenas um mês, e sem nenhum treinamento.

É um exemplo, mas ele deixa claro que, quando se fala em open source, seja em desenvolvimento de aplicativos, seja em compartilhamento de conhecimento, o sucesso está nas pessoas e na colaboração. Engajamento com propósito, capacidade de liderança e comunicação. É o elemento humano combinado com a tecnologia que trará novos caminhos para todos, temos visto os resultados da inovação baseada em colaboração seja em tecnologia ou na comunidade cientifica. É questão de tempo para que aumentemos a adoção do modelo de inovação compartilhada através do engajamento de comunidades para acelerar o futuro.
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